Antes de ser
cadeirante nunca reparei nos detalhes em minha cidade, nunca reparei a
dificuldade que outros cadeirante tinham em ter acesso as praças, praia,
banheiro, bares, lanchonetes e etc., eles eram invisíveis aos meus olhos porque
eu não passava por aquilo, não tinha necessidade de uma rampa de lugares
acessíveis para me locomover de um lado para o outro, pois fazia isso com tanta
facilidade então nem me preocupava e nem enxergava aquelas pessoas que hoje eu
sei o que elas sentem.
Sempre fui
muito hiperativa, sempre gostei de estar envolvida nas atividades, em rodas de
vários amigos, em programar festas e tal...sempre fui bem conhecida no meio da
galera e na minha cidade, pois sempre me dei bem com todos, trabalhava, recebia
apenas para meus gastos e nunca fiz questão com ninguém, estava sempre disposta
a ajudar fisicamente, financeiramente, psicologicamente essas coisas...era um
empresta, empresta de roupas! Adorava isso com as amigas, mas hoje não.
Não
gosto de ninguém mexendo ou usando minhas coisas, sou muito cuidadosa e depende
muito da pessoa para emprestar algo.
Sofri o
acidente, as pessoas foram se afastando e não foi a pouco não, foi “vapt e
vupt”! Decepção total com aqueles que sempre me cercavam e sumiram quando mais
precisei. Hoje vivo em uma cadeira de rodas e sinto o que aquelas pessoas que
eu nunca enxerguei sente. A vontade de entrar no mar e mergulhar, mas sempre
precisar de alguém agora para poder me levar, à vontade me arrumar como antes
me olhar no espelho, não gostei da roupa troco logo, hoje não tenho essa
mordomia toda, preciso de pessoas que me ajudem na transferência no carro, para
quando cai um sapato do meu pé, coloquem! Preciso de pessoas para ajudar quando
preciso subir em certo lugar e não tem rampa, tem uma calçada alta ou alguns
degraus, sempre estou precisando de alguém, sempre preciso chamar por alguém...
minha cabeça e meu coração dói, pois em minha alma não suporta mais depender
tantas das pessoas, me sinto morta. Tenho a certeza que morri para muitas
pessoas a partir do momento que parei de ser útil e comecei a precisar deles.
E com isto
percebo que a gente não precisa estar em uma cadeira de rodas, vejo casos e
observo o quanto de gente são desprezadas depois que não servem mais para “tal
coisa”, até onde vamos parar, até onde o ser humano irá tratar as pessoas como
objetos, como um celular, depois que ele quebra joga fora e substitui por outro
e assim vai. Quando você estiver com um ótimo emprego, tem dinheiro para as noitadas
com os amigos, pega uma bebida cara e banca pra galera você mulher ou homem se
torna a “celebridade” da noite, mas pensa comigo... infelizmente no outro dia
vc é dispensado do trabalho e fica sem dinheiro, conversa com seus “amigos” e
eles dizem que vão apoiar que “tamo junto” e tudo mais. Mas isso não passa de
uma mentira, pois quando você não consegue achar ninguém pra sair fica
procurando, você foi enganado. Estão todos curtindo e você em casa, você não
serve mais como companhia agora. Também tem muitos exemplos de dona de casa,
mães, avós ou tia que cuidam dos seus filhos, maridos, sobrinhos e etc., essa
dona de casa é super cuidadosa, comida sempre na mesa, roupa lavada, passada e
cheirosa, sempre a sua disposição...o tempo passa ela envelhece e é agora que
ela precisa de você, ou adoece, precisa descansar. Ela vai saber se o amor e o
trabalho que ela fez por eles foram considerados, mas muitos decidem dizer que
vão precisar se mudar, que arrumou algo melhor, que precisa arrumar alguém pra
fazer as coisas de casa, mas nunca perguntam se ELA precisa de algo, se ela
está bem ou o que ela quer que eles façam. Pois agora é cada um por si. Se ela
for uma senhora de idade, jogam no asilo. Infelizmente existem pessoas assim
ainda! Se ela adoece e começa a precisar das pessoas e estiver presa em cima de
uma cama, começa sentir a má vontade, o enjoou que as pessoas estão sentindo em
ter que fazer as coisas e ainda por cima cuidar de uma “doente”. Já presenciei
casos desse tipo!
Infelizmente esse é o mundo que gira em nossa
volta, essas são as pessoas que estão ao nosso lado e não sabemos se podemos ou
não confiar. Passo por isso, conto com pouquíssimas pessoas para depender sair
e me divertir, mas sempre me divirto com eles e eles sempre estão presentes
quando mais preciso, o apoio vem de onde menos esperamos das pessoas que você
nunca imaginaria ao seu lado.
Então é isso,
quero dizer que o apoio que eu achava que poderia contar o carinho que eu
poderia contar a consideração e etc., eu não posso. Sinto que incomodo com
minha cadeira de rodas em ficar montando e desmontando, de carregar uma cadeira
para um lado e para o outro, sei disso e tenho certeza porque vejo essa pessoa
com muita disposição para estranhos, aqueles que ele acha que são seus amigos. Mas
ele saberá realmente um dia que estiver em uma situação difícil, assim como eu
passei.
Não gosto de ninguém mexendo ou usando minhas coisas, sou muito cuidadosa e depende muito da pessoa para emprestar algo.
1 comentários :
Bom,queria falar que me recomendaram esse blog é bom demais,ja li esse post varias vezes e outros,é sempre bom ver recomendações,ouvir falar que tem um site bom ai de rastreamento um tal de http://rastreamento.org alguem ja ouviu falar?sabe me falar se é bom?parabens pelo blog,posta mais por favor!! fuuui
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